oGrunho (Discussão sobre Política Nacional e Internacional)

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segunda-feira, março 20, 2006

Porque é que uns são menos iguais que outros? I.e. Porque é que o Irão recebe um tratamento diferente da Índia

Quando o primeiro ministro indiano Manmohan Singh visitou Washington, regressou a casa com a promessa norte americana de que os EUA iriam partilhar tecnologia nuclear civil com a União Indiana. Ora segundo a lei americana e o Direito Internacional, a Índia, não pode receber tecnologia nuclear de qualquer tipo - civil ou militar - porque não é um dos signatários do Tratado de Não Proliferação Nuclear e porque - sobretudo - realizou testes nucleares em 1998... Apesar destas violações explícitas, a Administração Bush irá ceder à índia a mesma tecnologia que acusa o Irão de procurar desenvolver... Ou seja, se a índia pode detonar engenhos nucleares e não assinar o Tratado de Não-Proliferação, porque é que o Irão se arrisca a ser bombardeado apenas por procurar desenvolver tecnologia nuclear civil (já que o programa nuclear militar iraniano é ainda apenas uma possibilidade).

É essa dualidade de critérios que reduz a eficácia da política externa dos EUA e que mina a sua influência no Mundo Islâmico. A Índia aparece como um dos eixos de luta contra o Islão, em Cachemira e internamente e os EUA alinham ao lado de quem combata o Islão militante, esteja ele onde estiver, à custa de quantos tratados internacionais fôr necessário... A índia aliás pede também o auxílio americano na defesa da sua pretensão a um assento permanente no Conselho de Segurança, mas se o obtiver com este apoio, esta presença será mais um pretexto para que o Islão bata as mãos no peito e alegue "perseguição"...

Para que os EUA e o Ocidente possam vencer o conflito militar e cultural que os opõe a um Islão cada vez mais militante e expansivo tem que vencer antes o combate da legitimação ética e moral. Não é uma qualquer Real Politik Bismarquiana que dará vantagem ao Ocidente neste conflito, mas uma aproximação que favoreça a tolerância e a coexistência religiosa e cultural. Em vez da aculturação, a coexistência. Em vez da criação de "eixos", a criação de pontes de tolerância e compreensão... Mas essas pontes poderão ser lançadas por alguém que como George Bush encontra a parte mais forte dos seus apoios nos sectores religiosos mais ultra cristãos da sociedade americana?

Pouco provável...