oGrunho (Discussão sobre Política Nacional e Internacional)

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terça-feira, março 21, 2006

O Perigo da Gripe das Aves

Embora as notícias tenham sido tomadas de assalto pela chegada do vírus da Gripe das Aves a praticamente todos os países europeus, os países mais pobres de África e do Médio Oriente é que são o verdadeiro foco de perigo.

Nestes, é mais provável encontrar aves domésticas junto às habitações do que na Europa, e aqui as populações rurais são muito mais extensas do que no mundo ocidental... Juntando a estes factores, nestes países existe um deficiente sistema de vigilância e um sistema de saúde ineficiente e caótico... E como se não chegasse, nestes países a dependência da carne avícola para a alimentação humana é maior do que em qualquer outro lado... Em países como o Egipto mais de metade de toda a carne consumida é de origem aviária.

Estes factores fazem acreditar que é nestes países - e não na muito badalada Europa - que irá acontecer a primeira infecção simultânea da Gripe Comum em alguém que acaba de ser infectado com o H5N1 (ou vice-versa). Juntando os dois virus no mesmo organismo, o factor essencial para que se desenvolva a mutação humana... E quanto maior fôr a população onde esta reunião viral acontecer, maiores são as probabilidades da mutação.

O H5N1 é um virus com grandes capacidades de mutação. Ainda à meses atrás, o virus era transportado por patos selvagens, mas não provocava a sua morte, nem sequer a aparição de sintomas. Hoje, os patos morrem tanto como os galináceos onde o virus surgiu inicialmente. E não falamos, de um virus qualquer... Os seres humanos que já foram infectados, morreram numa assombrosa taxa de 2/3! E que não se pense que a vacina - que só poderá começar a ser desenvolvida depois da aparição da primeira mutação - será muito eficaz... Porque não será!
Normalmente, as vacinas humanas são desenvolvidas dentro de ovos de galinha, mas com o H5N1 isso é impossível. O virus é tão destrutivo para os ovos, como para o ser humano e houve que desenvolver um sistema alternativo que usa técnicas de manipulação genética. O problema é que este último processo é lento... E entre o seu começo e o fim medeiam seis meses... Isto é: só seis meses depois do primeiro caso de mutação é que teremos as primeiras vacinas... E os especialistas estimam que serão precisas apenas umas 4 semanas para que a pendemia se torne mundial... O Tamiflu e outros antivirais - sobre os quais têm sido depositadas grandes esperanças - já começam a desiludir. Por um lado, as multinacionais que os produzem não os conseguem fabricar a um ritmo suficiente e por outro continuam agarradas aos seus exclusivos e não deixam que outras empresas e estados usem as suas patentes. Mas mais grave ainda... Alguns casos de infecção humana no Vietname vieram demonstrar que a eficácia do Tamiflu for a substancialmente reduzida, e o paciente ainda que tratado com o antiviral desde o começo da infecção, faleceu! O que significa que o virus se está a adaptar e a ganhar resistências, mesmo aos mais poderosos antivirais conhecidos pelo Homem...

Sejamos claros: se houver uma pandemia global que provoque a morte a 2/3 da população nada mais será como dantes: as Economias vão colapsar quando as pessoas deixarem de poder sair de casa, quando os transportes públicos, as empresas e as escolas fecharem; os Estados serão incapazes de manter a autoridade e a ordem nas ruas e só pequenas comunidades isoladas e autosuficientes poderão resistir ao turbilhão...

Comparada com o H5N1, até a Peste Negra parecerá trivial...