oGrunho (Discussão sobre Política Nacional e Internacional)

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domingo, março 05, 2006

Réplica

A propósito deste Post, onde se refere o meu comentário: "A recessão da pobreza está limita ao grupo de países BRIC... Toda a África e a maioria do resto do mundo, continuam excluídos desse crescimento. E na India e China a maioria esmagadora da população continua excluída desse crescimento."


Este Post foi publicado num dos meus Blogues favoritos, o Centurião, gostaria de exercer a seguinte "réplica", começando por esclarecer alguns pontos. Para este efeito, vou passar a comentar frase a frase o texto do Centurião:


"Caro Rui Martins, semelhante discurso equivale a abrir os braços aos lugares comuns que servem de feno intelectual a uma certa esquerda parada no tempo. Inspira-se na mais bolorenta quinquilharia marxista."

* Aqueles que me conhecem mais de perto, sabem que não fácil de classificar... Ou seja, nnão sou exactamente um "marxista", nem um "não-marxista"... Em Marx reconheço o mérito das ferramentas e teorias de análise do Capitalismo que nos ofereceu e que ainda são válidas. Mas isso não significa que actualmente me aliste nas fileiras daqueles partidos e movimentos que se dizem herdeiros de Marx. Actualmente, coloco-me mais próximo do Tradicionalismo Português do Século XII, do "Ancient Regime" de António Espanha e, sobretudo do pensamento social e político de Agostinho da Silva do que de qualquer outra coisa. A minha originalidade vai ao ponto de ter uma corrente política própria.... O Movimento Quintano.

"Os ricos ficam cada vez mais ricos, e os mais pobres cada vez mais pobres. Documentação abundante desmonta essa falácia."

* Não é uma falácia... Veja o que aconteceu (e acontece) à Classe Média chilena. O Chile de Pinochet e dos seus sucessores democráticos foi o país do Mundo onde mais puramente se aplicaram as receitas liberais da Escola de Chicago. E o que aconteceu? Temos de facto uma das economias mais prósperas da América do Sul, mas a que preço? A erosão da Classe Média e do aumento da distância entre Ricos e Pobres. E isto quando foi precisamente a existência de uma classe média numerosa e abastada que esteve na raíz da prosperidade dos países europeus e dos EUA durante o pós-Guerra e durante a Guerra Fria... Se acabarem com a classe de consumidores, para onde vai parar a Economia? Sim, porque nem os Ricos são suficientes para manter a Economia longe do Excesso de Produção (Crash de 1921...), nem os pobres têm poder de compra suficiente para afastar o mesmo espectro da sobreprodução...


"De há 50 anos para cá, verificou-se um triplo aumento nos países que compõem o que dantes se designava por terceiro mundo: o aumento do rendimento médio, o aumento da população e o"

* Médias... Mas estes indicadores macroeconómicos reflectem realmente a verdadeira qualidade de vida destas populações? Veja-se o caso da Índia. No último número do "The Economist" surge um sucinto, mas claro, artigo sobre a Índia. Gostava de o citar frase a frase, mas não sei onde coloquei o raio da revista, razão pela qual teremos que nos contentar com a minha memória... Adiante. Diz-se aqui que do actual aumento do nível de vida beneficiou apenas 1/4 da população, o quarto urbano e mesmo dentro deste apenas aquele que trabalha directa ou indirectamente para o sector das tecnologias de informação. O resto, a maioria esmagadora da população continua alheada desta vaga de prosperidade... É precisamente a isto que me refiro quando falo do aumento da distância entre ricos e pobres nos BRIC.

"aumento da esperança de vida. Esta ultima subiu para mais do dobro no conjunto dos países ditos menos avançados durante a segunda metade do século XX. Neste mesmo período, a produção alimentar decuplicou na índia, o que dirimiu as epidemias de fome, outrora tão frequentes. Não é ainda suficiente para evitar que grande parte da população indiana ainda viva numa pobreza inaceitável, mas as grandes fomes do passado desapareceram e a pobreza está em constante recessão."

* Concordo consigo, quando afirma que a Índia está a progredir rapidamente (actualmente a um ritmo de 8%), mas existem severos problemas neste país... Desde um Orçamento desiquilibrado, ao constante conflito com o Paquistão, ao facto do seu maior inimigo ter como ela, a Arma Nuclear... Uma guerra faria cair a pique a economia indiana. E sabe-se como Prosperidade e Paz estão ligadas... A Índia caminha no bom sentido, mas somente para uma minoria da sua população.

"Na china com a introdução das reformas económicas e do capitalismo nos últimos 20 anos assistiu-se a um espectacular declínio da pobreza. Na américa latina, entre 1950 e 1985, o rendimento real por habitante duplicou. Durante as ultimas cinco décadas, a américa latina progrediu, no seu conjunto, cerca de 5 por cento por ano. A pobreza que subsiste, a bancarrota regular das finanças publica, a inflação e as fugas de capitais, não resultam de nenhum subdesenvolvimento fundamental crescente, mas sim da incompetência e da corrupção dos dirigentes, do malbaratar das ajudas internacionais e da persistência de um sector publico ruinosos e ineficaz."

* A China é um autêntico caldeirão fervente de nafta... Essa prosperidade teve como correspondência um massivo êxodo rural que criou uma imensa camada de assalariados subremunerados e quase sem direitos sociais e cívicos. Os chineses não conhecem o conceito de "férias" e na indústria as jornadas de trabalho diárias de 12 e 16 horas são frequentes... A isto chamo eu de Dumping Social.

"Esta realidade é ainda mais patente em africa, onde a experiências socialistas fizeram descambar o continente de um estado de semi-pobreza para o de miséria total. Na sua maioria, os países africanos, após as independências, adoptaram os sistemas soviéticos ou chinês. Foram buscar ao comunismo a receita infalível para a ruína da agricultura: a colectivização das terras e a criação de cooperativas que rapidamente se revelaram inoperantes. Muito mais do que o mercado e o capitalismo foi a estatização que arruinou economias da argélia à tanzânia."

* Bem, nem toda a África fez essas "experiências socialistas"... A outra África também se afundou e afunda todos os dias. O verdadeiro problema africano é o da corrupção e inépcia das suas elites dirigentes. São as élites que determinam a eficácia de um país, mas é o próprio país e as suas gentes que formam as suas élites. Por isso tem sido tão difícil para os africanos quebrar este círculo vicioso. Se a raíz da miséria africana estivesse unicamente nos regimes estatizantes e comunistas, então hoje, quando todos eles desapareceram estaríamos já a ver a África a renascer e a recuperar o lugar que é seu por direito entre as grandes nações do Mundo... Mas em lugar disto vemos o Darfur...

* Gostaria de ter mais tempo para escrever uma réplica mais bem documentada... Mas como diziam os outros: Tempus Fugit!