oGrunho (Discussão sobre Política Nacional e Internacional)

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quinta-feira, setembro 15, 2005

O que se passa com o Islão? Qual a raíz de tanto ódio contra o Ocidente?

Os recentes atentados da Al Qaeda em Londres tornaram a levantar a questão: Porque é que de tantas religiões só no islão assistimos à emergência do fenómeno do terrorismo islâmico?

a) Afeganistão e CIA

Na década de oitenta, a CIA e outros serviços secretos ocidentais organizaram conjuntamente com os serviços secretos paquistaneses grupos de combatentes islâmicos que motivados pela fé religiosa e armados com equipamento americano (os famosos mísseis Stinger) e com instrutores americanos e britânicos organizaram uma tenaz guerra de guerrilha contra os soviéticos e aliados do governo afegão.

Estes grupos de resistentes seriam, depois da retirada soviética do Afeganistão o núcleo do movimento fanático conhecido como "Talibans" e da própria Al Qaeda.

De certo modo, americanos e britânicos combatem agora a mesma besta que ajudaram a criar, qual Leviathan que se virou contra o seu criador...

b) o Simplismo do Islão

De todas as grandes religiões o Islão é provavelmente aquela que exige dos seus crentes um menor trabalho de compreensão e interpretação, aquela que pelo literalismo permitido pelos seus textos possibilita uma adesão mais absoluta e literal ao sistema religioso. O Islão não foi criado por nenhum especulador iniciado das escolas rabínicas e no platonismo alexandrino, como Jesus, nem um príncipe real ensinado desde jovem pelos melhores mestres, como Buda, nem Rama, o mítico criador da densa, filósofica e complexa mitologia hindu. Maomé era apenas um homem simples, sem grande instrução nem méritos. É a simplicidade da religião que ergueu nas areias do deserto (local pouco propício a grandes efabulações) que explica o seu actual sucesso e porque é que é o Islão a religião que maior expansão conhece nos dias de hoje.

c) a Globalização

Este movimento que se diz imparável da Globalização e que se traduz na abolição total ou quase total de barreiras alfandegárias impõe aos países menos preparados para resistirem aos desafios da economia moderno padrões de vida inferiores. É sabido que em África se vive hoje pior que na década de quarenta e que a maioria dos países do Médio Oriente têm percentagens de desempregados elevadíssimas, uma vez que as industrias locais são inundadas de produtos de alta tecnologia do Oriente e da Europa e de produtos de consumo chineses e indianos. Essa desindustrialização do Terceiro Mundo, com as excepções chinesas e indianas está a germinar uma numerosa multidão de descontentes que alimentam as correntes mais radicais do integrismo muçulmano num ódio crescente contra o Ocidente e contra a Globalização que ele representa.

d) a "Cruzada"

As recentes operações britânicas e americanas no Iraque foram conduzidas de um modo muito insensível quanto às sensibilidades nacionalistas e religiosas do Médio Oriente. Sem se preocuparem em congregarem atrás de si países muçulmanos, os EUA e o Reino Unido invadiram um país muçulmano e humilharam as suas forças armadas em poucas semanas. Esta cruzada reeditada em pleno século XXI levará séculos a ser esquecida pelos muçulmanos de todo o mundo, uma vez que foram ocupados e bombardeados alguns dos lugares mais sagrados do Islão.

e) a "Questão Palestiniana"

A eternização da "Questão Palestiniana", a inexistência de um estado palestiniano independente e as constantes humilhações que Isreal exerce sobre os árabes que vivem nos seus territórios e nos países límitofres acicatam o ódio contra os israelitas e todos aqueles que os apoiam, como os EUA. Enquanto a Palestina não fôr um Estado independente, económicamente viável e detiver o controlo sobre os seus locais sagrados em Jerusalém, os muçulmanos de todo o mundo hão-de invocar a questão palestiniana como um dos grandes insultos contra a sua religião e modo de vida.

f) O Colonialismo Britânico e Françês

Uma vez que a maioria dos países do Médio Oriente viveu sobre a ocupação ou protectorado britânicos e franceses, existe contra estas nações um profundo ressentimento histórico. Nas escolas destes países, franceses e britânicos são indicados como os colonialistas que ocuparam os seus territórios e que tiveram que ser expulsos pela força. Neste sentido, o ressentimento contra a França e o Reino Unido é elemento constitutivo da identidade nacional árabe, uma vez que antes do colonialismo europeu não existiam verdadeiros "estados" árabes, mas sultanatos, régulos, clãs e tribos, governados relaxadamente pelo longíquo e obsoleto (mas muçulmano) Império Otomano.