oGrunho (Discussão sobre Política Nacional e Internacional)

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quinta-feira, setembro 15, 2005

Parte 17: "A Escrita Cónia": Extensão do território ocupado pela nação cónia

Heródoto (Histórias, II, 33), é um dos primeiros autores clássicos a mencionar – ainda que vagamente – a posição geográfica dos Cónios: "Os celtas encontram-se além das Colunas de Hércules limítrofes dos Kinessioi que são, pelo Oceano, o último povo da Europa". Mas preciso seria Estevão de Bizâncio que designa o Sudoeste da Península Ibérica como Cyneticum, um nome que resultava do nome dos seus habitantes, os Cynetes do também grego Heródoto de Heracleia (século V a.C.). De sublinhar que nesta época, que corresponde grosso modo à Idade do Ferro Peninsular, todo o Sudoeste era considerado como território cónio. Uma situação diferente da que os romanos encontrariam séculos mais tarde.

Segundo Mário Saa (“As Grandes Vias da Lusitânia”) a província romana da Lusitânia era dividida em três “promontórios”, entre quais se contava o Cuneus Ager, ou “Terra Cúnea”. Este território estendia-se desde o rio Guadiana até ao Sado, incluindo o cabo de São Vicente. Seria nesta região que se inseriam as prósperas cidades turdetanas de Myrtili, Esuri (Tavira), Balsa (Mela; 3, 7) e Ossonoba. Já escrevemos antes sobre o estreito parentesco entre cónios e turdetanos (se é que não existe mesmo uma relação genética). A estas cidades somavam-se outras que na época romana já eram maioritariamente povoadas pelos célticos que tinham descido da Meseta Central, nomeadamente Lacobriga e Porto de Annibal , no Promontório Sacro. No Promontório Magno, a cidade túrdula de Ebora era a povoação mais importante daquela região. Com excepção destas penetrações célticas e túrdulas, parece-nos pacífico que toda a região era, em tempos anteriores à presença romana, “Terra Cúnea”.

Incluídos nesta “Cuneus Ager” estariam o “promunturium Sacrumi” de Plínio (4, 115) (o Cabo Espichel, segundo K. G. Sallmann) assim como outro cabo, o “Cuneus” (o Cabo de São Vicente, segundo K. G. Sallmann, o de Santa Maria, segundo Amílcar Guerra e García y Bellido).

A comunidade de fronteiras entre cónios e tartéssicos é-nos testemunhada por Avienus: "Aqui, no penhasco consagrado a Saturno vagueiam hirsutas cabras e numerosos bodes... desde aqui até ao dito rio há uma viagem de um dia e aqui encontra-se o limite do povo dos cinetes. O território dos Tartessos é contíguo ao deles e o rio Tartessos (rio que tem o nome da cidade) rega a terra".

Existe uma coincidência entre a área atribuída pelos autores clássicos ao “Cuneus Ager” e a distribuição geográfica das estelas cónias tal como ela nos é apresentada por Amílcar Guerra. É este investigar que chama a atenção para a concentração de testemunhos epigráficos nas bacias hidrográficas que se situam na Serra do Caldeirão, sobretudo nas imediações do rio Mira, num percurso que parece acompanhar rotas comerciais que ligavam a próspera economia de Tartessos, no Sudoeste de Espanha, aos territórios ocupados pelos Cempsi e Saefes (num período mais remoto) e a Célticos e Túrdulos no período mais tardio. Os Cónios surgem em ambos os momentos na posição de intermediários, através dos cursos fluviais que dominavam e é desta posição de contacto com diversas culturas e com os mercadores e agentes comerciais fenícios que percorriam estas rotas que resultou o seu domínio da escrita numa época tão remota como os séculos VII e VIII a.C.