oGrunho (Discussão sobre Política Nacional e Internacional)

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quinta-feira, setembro 15, 2005

Parte 23: A Escrita Cónia: Deusa Salutífera, uma Deusa-Mãe

A confirmada presença fenícia não pode ter deixado de influência a religião das populações indígenas. O arqueólogo Mário Varela Gomes pode ter encontrado vestígios dessas influências em Garvão, conforme escreveria: “enorme depósito votivo secundário indica ter existido em Garvão (Ourique). Neste local prestava-se culto a uma divindade feminina do tipo da Tanit cartaginesa, senhora da luz, da felicidade, mas também da morte e da regeneração a quem se ofereciam ex-votos, alguns anatómicos, em ouro e prata, além de peças coroplásticas e grande quantidade de recipientes com diversas formas e funções.” Mas aquilo que pode indicar essa influência semítica é negado por se tratar de um santuário “céltico” e pelas características demasiado genéricas da divindade cultuada. A influência fenícia no sistema religioso cónio não parece ter sido sensível, algo que deve ter resultado da quase inexistência de mercadores fenícios no nosso território. Esta “Tanit” estará certamente ligada por laços genéticos ao culto neolítico da Deusa-Mãe, comum aos povos megalíticos que abundantes vestígios deixaram no sul de Portugal. Dada a aparente continuidade entre estes povos neolíticos e os cónios, e mantendo a negação do carácter exógeno da origem dos cónios – como as provas arqueológicas parecem indicar – é altamente provável que exista algum tipo de culto a uma divindade feminina testemunhado nas estelas inscritas cónias, um pormenor a que estaremos particularmente atentos na nossa tentativa de tradução.