Sinais da portugalidade contemporânea...

Numa das últimas noites, quando chegava a casa do trabalho deparo-me com um automóvel estacionado sobre o passeio, mesmo à frente da minha porta. Normalmente, esta é daquelas coisas que mais me fazem ferver, mas neste caso concreto lembrei-me daquela vez em que a minha mulher fez o mesmo, e calei-me, sentindo que neste caso não tinha autoridade moral para falar... Mas quando abria a porta noto uma confusão qualquer nas minhas costas: um homem, nos seus sessenta e tal anos discutia com o proprietário do veículo. Aparentemente, acusava-o de ser "porco" (o insulto mais suave dos vários que ouvi) por estar a limpar o tapete do seu carro naquele local (trata-se de uma das mais centrais avenidas de Lisboa, a avenida de Roma). Não apanhei grande parte da "conversa", mas quando entro no elevador ainda vejo os dois a começaram um combate de boxe (imaginem agora dois homens de 60 anos a lutarem...) e a serem separados por transeuntes...

Não vi o outro a sacudir nenhum tapete, mas vi como estacionou o carro mesmo sobre o passeio. E esta atitude, sancionada pela ausência permanente da autoridade numa das principais artérias da capital e pelo baixo nível de civismo da generalidade dos portugueses. O episódio é apenas mais uma das diversas manifestações desse baixo civismo, da fraca capacidade que temos para viver em Sociedade, respeitando os interesses e necessidades dos outros. Sempre que a autoridade está ausente ou é fraca e incompentente, o verdadeiro Tuga vem à superfície: o mais puro bárbaro social da actualidade.

O episódio é uma prova de baixo civismo, mas também mostra o quanto inflamados e extravasados estão os nossos sentimentos... Não vi razões para uma sessão de pugilato e por regra a violência física dificilmente pode ser justificada a não ser como forma de autodefesa. O que terá levado aquele idoso à agressão? Que frustações? Que vazio na vida?

Sinais da portugalidade contemporânea...