oGrunho (Discussão sobre Política Nacional e Internacional)

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terça-feira, março 14, 2006

ReRéplica ao "Centurião"

Continuando o interessante (pelo menos para mim) debate "ideológico" entre o "Centurião" e Moi Même, eis que cá vai mais um episódio do nosso debate sobre o Capitalismo e o Marxismo:


"Marx previu a falência do capitalismo. Falhou. Os herdeiros prevêem o alastramento global da pobreza em beneficio de uma minoria de ricos. Vão falhar."

O Capitalismo não é certamente a última forma económica que a História conhecerá, assim como não foi a primeira, outras lhe sucederão. Um dia, ele chegará ao fim e será substituído por outra coisa qualquer. Actualemente parece ter sido a forma mais eficiente de criar riqueza, embora não a de a distribuir. o Capitalismo mais extremado tende a dividir a sociedade em muito ricos e muito pobres, assim como fazia o comunismo soviético (Nomenklatura vs o resto), desde 45 até finais da década de 80, a Europa ocidental conheceu um regime intermédio, influenciado pela "ameaça vermelha", e logo tentado anular os argumentos dos partidos comunistas locaia, com Estados fortes, sociais e rentáveis que conheceram nos países nórdicos os seus paradigmas mais perfeitos. Esse seria o regime ideal. Mas hoje, com a Globalização e a Supressão cega das barreiras alfandegárias, esse regime seria económicamente inviável. A solução? Na minha opinião, um regresso às ideias de António Sérgio e uma boa dose de comunitarismo "medieval" (cidades medievais, "conselhos" municipais e não-propriedade agrícola), nem na onda do pensamento de Agostinho da Silva e do nosso Portugal medieval poderia ser uma alternativa...
Mas disperso-me!


"Não encontro melhor índice de reforço da classe media chilena, do que a quebra do numero de chilenos abaixo da linha de pobreza de 46% em 1987 para 23% em 1998, é um exemplo particularmente eloquente da dinâmica social que se fez sentir no Chile e que desbarata o argumento que ocorreu uma erosão da classe media com a introdução do liberalismo."

Essa redução é negada por alguns chilenos... Mas imagino que existam sempre números capazes de provar todas as teses possíveis e imagináveis. De qualquer maneira, existem chilenos acreditam que a descida se deveu sobretudo a uma manipulação estatística, com a redefinição em baixa dos patarames de pobreza... Um golpe de mágica ao de Blair quando reduziu de um momento para o outro o desemprego no RU ao fazer sair desse número 300.000 de deficientes (ano passado, creio eu). Estes críticos dizem que o número mais realista de pobres rondará os 40 a 50%... Segundo os padrões antigos... Mas certo, certo é que 58% dos pensionistas chilenos recebem apenas 120 dólares mensais e a percentagem remanescente recebe reformas ainda mais reduzidas, formando grande percentagem desse número de pobres.

"Desenvolvimento urbano seguida de perto de uma massa rural de pés descalços. Qualquer teoria sobre desenvolvimento sustentado devia guardar um capitulo sobre a turba que abala para as cidades."

É verdade. Esse fénomeno do êxodo rural ocorreu sempre que a modernização das técnicas agrícolas libertou mão-de-obra e que esta procurou alternativas de vida nas urbes. Isso aconteceu no século XI, no XVIII e no XIX. E agora repete-se, com mais vigor do que nunca, porque nunca houve um ritmo de mecanização dos campos tão intenso como hoje. O problema é que as cidades já não são capazes de absorver tanta mão-de-obra e isto é especialmente verdade na China, onde a vinda destes "emigrantes rurais" tem contribuído para a persistência consistente de preços de mão-de-obra barata na China e em menor grau na Índia (a produção industrial indiana caiu de 2006 para 2005!). Mas mesmo a florescente industria chinesa não está a conseguir absorver toda essa mão-de-obra e estes desempregos (sem subsídio) começam a acumular-se nas cidades, vivendo nas ruas e traficando, roubando e trabalhando em pequenos biscates. Essa mole crescente um dia há-de começar a provocar problemas sérios nas cidades chinesas e a reclamar a sua fatia na prosperidade que a vê a rodeá-la...

"A china é credora de criticas, entre as quais, a supressão total de liberdades varias, violação dos direitos humanos, escandalosa distribuição do rendimento nacional, etc, mas não podemos implorar por regalias e direitos, que aqui, na Europa levaram décadas a serem decantadas. As virtudes do estado social não são o fruto espontâneo de nenhuma arvore."

A China é actualmente o país do mundo com uma atitude mais cínica e amoral. Veja-se o seu bloqueio no envio de ajuda militar ao Darfur e na questão nuclear iraniana, porque importa petróleo de um e de outro país, veja-se a bárbara ocupação e repressão no Tibete, veja-se o tratamento que dão aos animais para lhes recolher pele, etc, etc. é um sem número de bárbaries. De farol da civilização, a China é hoje, farol da barbárie. Uma pena... Numa das mais remotas civilizações do mundo e num dos povos mais inteligentes, que tenha cedido a um regime bárbaro e cruel. Mas talvez não tenham opção. Veja-se o que aconteceu em Tiannamen... A este ritmo a China não caminha para nenhum tipo de "estado social", mas aprofunda sempre aquele estranho paradoxo de ser um estado comunista (politicamente) e ultracapitalista (económicamente). A classe média chinesas não existe, não no conceito que dela temos no Ocidente, pelo menos, e nem mostra sinais de vir a surgir, ao contrário da Índia onde esse fénomeno é emergente nos empregos ligados às ITs (deixando de parte 25% da população).

Se bem me lembro, a classe média chinesa actualmente não deve representar mais de 20% do total da sua população e o GDP ainda ronda uns baixíssimos 1000 USDs... (Peru: 950 USDs, Vietnam 2900 USDs, vendo aqui ao calhas no meu The Cambridge Factbook). É certo que em 1992 era de apenas 380 USDs, e esse foi um aumento consistente e grande, mas ainda falta tanto para chegar aos patamares europeus... E ninguém acredita que a China continue a manter os seus níveis de crescimento por mais de cinco anos... A porporção de consumo doméstico do GDP ainda é muito baixa (59% quando a média mundial é de 78%), o que indica a existência de padrões de consumo muito fracos. Mas é nas populações rurais (70% da população total) que reside o grande problema... Muitas cidades estão hoje a impedir por todos os meios a chegada de novos exilados rurais e os seus baixos rendimentos e a impossibilidade de os aumentarem no meio rural significa que em breve assistiremos a um travar do crescimento da classe média chinesa (o GDP de um um agricultor chinês é de apenas 317 USDs, um terço da média chinesa!)

Fontes:
http://www.chinadaily.com.cn/english/doc/2004-10/27/content_386060.htm
http://www.chinadaily.com.cn/english/doc/2005-02/18/content_417241.htm
http://news.bbc.co.uk/2/hi/asia-pacific/3732914.stm
http://www.china-embassy.org/eng/gyzg/t80880.htm
etc etc etc etc

P.S.: Ufa!